Um Passo-a-Passo Pessoal Para A Prática da Meditação Zen

Bodhidharma, o criador do Zen


Já falei um pouco sobre Zen por aqui, mas nunca em termos práticos. Vou falar um pouco da minha experiência, em termos resumidos. Não sou nem monge nem professor autorizado, mas como todo praticante eu sinto prazer dividir com amigos tudo aquilo que me faz bem, na esperança de que lhes possa servir para algo.

Pra começar, eu sento. Como eu sento? Na literatura, existem várias formas de sentar. Lótus, semi-lótus (bote no google pra ver como é), em uma cadeira ou ainda de qualquer jeito que você quiser, desde que você não durma. Você pode usar um Zafu, que é uma almofada especial. Eu nunca tive saco pra comprar um Zafu, então eu peguei uma colcha velha, dobrei e sentei nela. Uma regra que eu considero importante é: uma vez que você começa a meditar, não mude de posição. Antes, tudo bem. Mas se você começa a mudar de posição depois que começa, sua meditação se transforma em uma busca pela posição perfeita e você nunca começa a meditar. Mas o que é meditar zazen, mesmo?

Bom, primeiro você escolherá um lugar em que não será incomodado e uma posição minimamente confortável. Digo minimamente porquê logo você vai perceber que nenhuma posição é totalmente confortável, mas o importante é que uma vez que você comece a meditar você permaneça realmente imóvel.

Depois, você precisa encontrar sua respiração. Você pode pensar que respirar é algo tão automático que é algo "insentível", mas isso não é verdade. Se você estiver calmo o suficiente, poderá sentir o ar passando pelas suas narinas. Isso varia para cada pessoa. Você pode tanto sentir na ponta do nariz, como lá dentro. Não importa, o que importa é que você perceba que está respirando. Quando você estiver seguro disso, posso ir para o próximo passo.

Quando você senta, você procura a tal posição relativamente confortável, fecha a boca pressionando a língua suavemente contra o céu da boca e respira profundamente por 3 vezes. Começa contando sua respiração nasal de 1 a 10, contando tanto a inspiração quanto a expiração. Quando chega-se a 10, zera-se a contagem. Este recurso serve para iniciantes, mas pode e deve ser abandonado a qualquer momento, quando a mente naturalmente encontra-se confortável concentrando-se apenas na sensação da respiração. E como você respira, profunda ou levemente? Existe alguma técnica para isso? Você deve visualizar algo, FAZER ALGO, ter algo em mente? NÃO, ABSOLUTAMENTE NÃO!

Você pode pode acabar pensando que para manter a mente vazia deve afastar com toda a sua energia todo e qualquer pensamento que surgir, e a resposta para esta dúvida é um vigoroso NÃO. O zazen não tem nenhum intuito a não ser a própria prática do Zazen, isto é, se manter imóvel e concentrado na respiração. Se um pensamento surgir, respire. Não pense a respeito do pensamento. Deixe que o pensamento pense a si mesmo, o observe como quem senta na praia e vê uma onda passar. Você não pode fazê-lo ir mais depressa, nem pode retê-lo por mais tempo. Bom ou ruim, você deve deixá-lo viver e morrer por si só. A mente Zen, alcançada naturalmente, não é vazia, mas repleta de nada. Tudo aceita e compreende, sem conflitos da mente dualista, porquê una com a natureza. Melhor dizendo, ela é a própria natureza.

Marcar o tempo é bom, desde que você não se importe muito com isso. Durante a meditação, tempo e espaço são noções que não devem perturbá-lo, mas o resto do mundo continua existindo, portanto é bom manter um alarme suave por perto para despertá-lo. Recomendo que comece em 20 minutos e, caso considere demais, vá reduzindo até o tanto que consiga e depois incremente aos poucos. Não comece com um tempo absurdo que o deixe ansioso ou apreensivo. Mas entenda que para o verdadeiro praticante Zen o tempo não será uma grande preocupação. Entre uma respiração e outra, não cheque o relógio. Deixe que o alarme te "acorde". Em pouco tempo, 20 minutos parecerão um piscar de olhos. Nas primeiras vezes em que você senta, a respiração está agitada e descompassada, os pensamentos passam em alta velocidade. Você sentirá também diversos incômodos físicos, tais como comichões, coceiras, dores, desconfortos, sede etc. Tudo isso faz parte do desafio de domar a sua mente, e a única solução para isso é não lutar contra, mas voltar a se concentrar em sua respiração. Se você lutar contra, perderá. Aceite toda a sensação, inclua-a em sua mente e volte à respiração. Com o tempo, seu Zazen fluirá como um rio tranquilo.

Observação: a contagem de 1 a 10 recomendada anteriormente é um recurso opcional, que serve apenas para iniciantes. Com o tempo, ela se torna desnecessária.

Em um período de 20 minutos (meditadores experientes podem ir muito além disso, mas você não deve se preocupar com isso. Virá naturalmente.), eu me sinto feliz se consigo alguns segundos de mente vazia. O Zazen é um descanso para a mente, e dele eu extraio inspirações preciosas e uma tranquilidade que me acompanha durante todo o dia. Ele me ensinou a ser mais paciente comigo mesmo e tolerante para com os outros. E eu seria egoísta se não o oferecesse a vocês.


Livros indicados:

"O Espírito do Zen", Allan Watts.
"Mente Zen, Mente de Principiante", Shunryu Suzuki
"A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen", Eugen Herrigel

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