A Horda
Todos os dias eu acordo pensando que a Horda não está mais lá. Os sonhos bons são poucos e tornam tudo pior. Geralmente sonho com a Horda. Quando durmo, respiro melhor e sem controle. Sonho com um calendário sem marcas. Às vezes me inspiro a escrever algo. Quando o faço, apago no meio do caminho tudo que tinha feito. É uma compulsão, já me disse uma profissional. A compulsão pela palavra perfeita me priva de toda palavra. O gozo mesmo está em corrigir, em cortar algo de si mesmo e com isso sentir-se um pouco mais perfeito. De vez em quando esqueço da presença da Horda. Escrevo mais distraído, tomo meu café, tiro o almoço do congelador. E a Horda lá. De vez em quando escuto um assovio de gelar a espinha, seguido de urros animalescos. Eu não lembro mais quando a Horda chegou, mas desde então meus dias foram cobertos de noite e poeira. Para mim a Horda não tem cor, se cobre de sujeira e panos pretos. Quando amanhece tenho a impressão que se aproximaram um pouco, fechando o cerco sobre m