Uma conversa

eu: outro dia tive vontade de escrever uma mensagem altamente destrutiva com o título
"porquê não sou cineasta"
a elaborei inteirinha em minha cabeça no caminho de casa
quando fui chegando, desisti de escrevê-la
não ganharia nada enviando-a a meus antigos colegas
mas a verdade é que me senti feliz com a minha resolução
não sou artista e abandonar por completo esta pretensão faz de mim um homem livre.
Enviado às 20:36 de domingo
Manuel: escreva pra mim
eu: por isso eu nao quero saber dos filmes da sua tia
não, eu não quero escrever, não preciso
Manuel: davi
o fato de vc n querer ser cineasta
nao impede de conversar sobre filmes
eu n gosto de cinem.a
no entanto
vejo alguns filmes
e gosto de alguns filmes
eu: já está resolvido em mim, escrever é reviver o que não precisa ser revivido, é fazer doer o que não precisa ser redoído.
Manuel: entao n tá tão bem resolvido ne
tá só suspenso
eu: honestamente? não acho que o público atual mereça o cinema.
apenas poucos
poucos amigos
estou profundamente cansado
desgastado
amargurado
não me presto mais a discutir com um bando de ignorantes
a ouvir asneiras por onde vou e não receber nenhum respeito pelo meu diploma, pelo tanto que estudei e me dediquei a adquirir o conhecimento de que disponho
eu: uma vez por ano vou assistir 2001 Uma Odisséia no Espaço sozinho
de joelhos
e não comentarei com ninguém
não direi mais uma palavra sobre cinema
Manuel: oque aconteceu, amigo? pq essa raiva?
eu: subitamente percebi a minha posição nos tempos de hoje, Barral
meu conhecimento é totalmente irrelevante
incômodo, até
indesejável
chato
eu: vivemos em tempos desatentos, Barral
ninguém quer parar para sentir uma arte sutil
decidi que serei apenas mais um
serei mais um no fluxo da informação
vou twittar e facebookear e smsear o tempo todo
Manuel: isso é ruim?
eu: sim, é péssimo
mas eu desisti
serei mais um zumbi para não ser mais um sozinho
viverei a ansiedade coletiva da busca neurótica do outro virtual na fuga do real
se quiser, pode salvar essa conversa
tá aí a sua carta

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