Pode falar, meu bem
- Pode falar, meu bem. Eu vou entender.
- Mas amor, não tem nada pra falar.
- Não adianta mais me enganar. Agora o importante é que você seja honesto. Seja o que for a gente resolve. Você sabe que pode me falar qualquer coisa, né?
- Mas meu bem, eu acho que você não vai entender.
- O quê é que eu não vou entender, Roberto Carlos? Conta, meu amor. Vâmo deixar isso pra trás, começar do zero.
- Tá bom amor, eu vou contar. Promete que não vai ficar chateada?
- Prometo, amor. Pode falar sem medo.
- A verdade...
- Sim, morzinho, pode dizer.
- A verdade, meu bem, é que eu nunca te traí. Eu nunca nem olhei pra outra mulher. Meu coração é todo seu, desde a primeira vez que a vi.
- E cê quer que eu acredite? Hein, canalha? Hein, safado?
Ela fala isto com um sorriso.
- É verdade, amor. A mais pura verdade.
- Primeiro ano de namoro, a Claudinha, minha amiga, gostosona, coxão, peitão, bundão, dava o maior mole pra você e nada?
- Não vou mentir, a gente chegou a tentar... mas na hora eu pensei em você, esse seu rostinho lindo, o jeito que cê olha pra mim... não deu.
- Tu brochou, Roberto Carlos?
- Ah bem...
- Responde, Roberto Carlos!
- Ai, amor... brochada de amor não conta.
- E Costa do Sauípe, Jorge? Cês dividiram quarto e mesmo assim, nada?
- A gente jogou gamão e falou de você a noite toda.
- E você quer que eu acredite nisso?
- É verdade amor, a mais pura verdade
- Verdade o quê? Que meu marido é um banana? Um rola murcha?
- Não fala assim, amor...
- Falo sim. Nunca pensei que tinha casado com engole espada. Bem que mamãe avisou...
- Que é que sua mãe tem a ver com isso?
- Ela ficou desconfiada quando cê não quis comer a stripper na despedida de solteiro...
- Como é que ela sabe disso?
- Foi ela que contratou a puta, Roberto Carlos! Meu deus, que vergonha... que nojo.
Roberto Carlos tenta beijá-la.
- Sai, Roberto Carlos! Tira essa boca de pica daqui
- Meu bem, que é isso, eu só tenho olhos pra você!
- Exatamente! Imagina só a vergonha, todo mundo olhando pra mim com cara de pena, pensando “Coitada da Sueli, casou com cheira cú...”
Roberto Carlos respira fundo.
- Meu bem, tá legal. Você me convenceu. A verdade é que eu comi a Claudinha, sim. E depois dela a Gabriela, a Marina e a Samanta – essa última ontem mesmo, aqui na cama da gente.
- Tá falando isso pra me agradar, né?
- Não, bem. Verdade.
- Hum, sei.
Sueli sorri de leve.
- Aqui mesmo, foi?
- Foi. De quatro, a cara dela tava enfiada aí onde você tá sentada.
- Tipo assim?
Ela faz a posição.
- É, assim mesmo.
- E ela gozou gostoso?
- Gozou gostoso comigo lá dentro.
- Sem camisinha?- Sem camisinha.
- É, né? Safado.
- É, bem. Bem safado. Bem gostoso.
- É, cafajeste?
- É...
- É, calhorda?!
- É, sem vergonha?! Nojento! Infame! Cachorro sacripanta! Desgraçado!
- Amor?
- Vagabundo! Salafrário! Pulha! Patife! Cão! Coisa ruim!
Roberto Carlos se levanta e vai até a sala. Sueli o segue.
- Mentiroso! Covarde! Ingrato! Filho da puta! Fã do Michel do Teló!
Roberto Carlos vai embora. Sueli encosta as costas na porta, sorri e desliza lentamente até o chão.